O macaco das savanas (ficção?)

 

O humano é o macaco das savanas.

Na escala evolutiva, os primatas que precederam o homem eram macacos quadrúpedes que habitavam florestas. O surgimento de nossa linhagem, há mais de dois milhões de anos, é marcado por aspectos que é importante destacar.

Cabe, primeiramente, assinalar a posição ereta. O humano é bípede. Isso libera suas mãos, o que tem consequências impressionantes.

Em vez de florestas, habita savanas, bioma com predomínio de pastos e árvores pequenas. Prefere morar em cavernas.

Durante milhões de anos, um animal insignificante, que sobreviveu a duras penas, com a colheita de frutos e a caça de pequenos animais.

O historiador Harari comenta: ocupava o fim da cadeia alimentar. Sua primeira invenção foi o machado de pedra. Se um leão matava uma girafa, comia à vontade e abandonava a carcaça. Era então a vez das hienas e dos chacais. Depois de todos, chegava o homem, cuidadoso, com seu machado de pedra, e comia a única coisa que restava: o tutano de dentro dos ossos.

Um dia, porém, há cerca de 300 mil anos, tudo começa a mudar. É quando o humano aprende a controlar o fogo. A partir daí, consegue defender-se melhor de seus agressores. Aumenta seu cardápio, cozinhando vegetais e animais. E, sobretudo, multiplica seu poder de caça. Sim, desde então, o fogo é usado para cercar e matar animais de grande porte.

Por volta de 200 mil anos atrás, na África Oriental, surge nossa espécie, o Homo sapiens. Dali, espalha-se pelos outros continentes. E algo nele passa a diferenciá-lo dos outros animais: o desenvolvimento de sua linguagem. Como isso acontece? Enigma.

Anaxágoras, filósofo grego, traz frase plena de mistério: “O homem pensa porque tem mãos”. Pois bem. Aqui será feita a seguinte leitura: quando se tornou bípede e liberou suas mãos, isso permitiu ao humano aprimorar sua linguagem, inicialmente pela fala e depois pela escrita. Síntese rápida demais, tudo se deu em vários milênios.

Outro aspecto fundamental é o tamanho do cérebro, muito maior do que o dos outros animais. Não se sabe se isso antecede à evolução da linguagem ou se é causado por ela. Pode, também, ser ambas as coisas.

Não existe no humano um sistema responsável pela linguagem, apesar da magnitude de sua função. Ela se vale de todos os sistemas, ela parasita todos eles. É mais um dado curioso dessa complexa questão.

Com a agricultura e a pecuária, nascem os transportes, o comércio, as comunicações, as cidades. A explosão populacional traz nova utilidade para o fogo: destruir florestas e aumentar savanas. Sim, para o macaco humano a floresta é inabitável, enquanto que a savana é seu paraíso. É ali que ele cria gado, faz suas culturas, constrói suas habitações.

Isso está no DNA do macaco das savanas. Incêndios florestais sempre ocorreram e ocorrem no mundo inteiro. Em todas as épocas, em todos os continentes. Os indígenas brasileiros, por exemplo, conhecem bem a coivara. Na atualidade, pode-se mencionar, de passagem, os mais recentes e divulgados: na Califórnia, no Canadá, em Portugal, na Grécia, na Rússia, na Indonésia, na Austrália.

De propósito, o Brasil fica por último. O que acontece? Em 2024, o Rio Grande do Sul é devastado por inundações, e o resto do país pelo fogo.

Que futuro teremos? O macaco humano produzirá uma savana global? Sua razão conseguirá domesticar seu DNA?

 

2 Comentários

  • Celso Rennó Lima disse:

    Muito bom meu amigo! Traz uma questão histórica para justificar nossa atualidade.

  • M. Cristina S. Magalhães disse:

    Muito importante evocar a história que se mostra enraizada no presente. Porém absorve o terrorismo e crise ambiental . A mão do humana coloca fogo, destruindo as florestas para formar mais pastos e destruir a legitimidade governamental e os biomas, fonte da vida saudável. Ação Bárbara!!.como refletir??

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